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terça-feira, 19 de abril de 2011

Em países onde a educação vai bem, a carreira de professor é valorizada


Em países onde a educação vai bem, a carreira de professor é valorizada

A receita do sucesso nos países onde os alunos recebem os melhores resultados nos testes padronizados internacionais, como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), está no aumento de salário e na oferta sistemática e estruturada de treinamento profissional dos professores, segundo reportagem de Juliana Doretto publicada na edição desta segunda-feira da Folha.
reportagem completa está disponível para assinantes da Folha e do UOL.
Em Cingapura, por exemplo, que ocupa a segunda posição no ranking de matemática do Pisa, os professores começam a ensinar pelo mesmo salário de um engenheiro contratado pelo governo --cerca de US$2.500 por mês.
Leia a íntegra da entrevista de Lee Sing Kong, diretor do NIE, instituição que forma docentes em Cingapura.
Leia o artigo de Philip Fletcher sobre como os países mais bem sucedidos do Pisa gerenciam o ensino para obter bons resultados. 

18/04/2011 - 03h00

Um momento precípuo na profissão de professores

A primeira reunião internacional de cúpula da profissão de professores (veja aqui site oficial do evento) realizou-se em meados de março passado na cidade de Nova York, organizado pelo Ministério da Educação dos EUA, a OCDE e a Educação Internacional, uma associação internacional de professores.
Todos os 16 países representados eram participantes do Pisa com o desempenho mais alto ou que demonstraram rápidos avanços nas últimas avaliações, tais como Polônia e o Brasil. O propósito da reunião era sondar o que os outros países estão fazendo para incentivar o ensino e a aprendizagem para tentar descobrir o que efetivamente funciona nesse setor.
Como será que os países mais bem sucedidos do Pisa gerenciam o ensino para obter esses bons resultados?
Segundo os representantes dos governos e associações profissionais de ensino nos países de desempenho mais alto do Pisa, a profissão de professor atrai os mais bem-sucedidos alunos formados em cada geração, aplicando os critérios mais exigentes para assegurar os recrutas mais fortes para seus programas de treinamento docente.
Por exemplo, na Finlândia, apenas 1 em cada 10 candidatos entra na profissão depois de cumprir um processo rigoroso de seleção em múltipla etapas que visa recrutar apenas os mais bem qualificados.
A seleção dos professores não se baseia apenas na sua competência cognitiva, mas dá igual importância a seu potencial de liderança, seus valores éticos, disposição para ensinar e sua habilidade e capacidade de comunicar e de se relacionar bem com outras pessoas.
Uma vez que os recrutas dos países de maior desempenho no Pisa entram na profissão, eles participam em média de quinze horas por semana na observação das salas de aula, na colaboração com colegas e em atividades profissionalizantes a longo prazo.
Onde a proficiência dos alunos é mais alta, os professores têm ampla autonomia no desempenho de suas atividades didáticas para alcançar alunos com diversos estilos de aprendizagem. Mesmo nos países com fortes ministérios de educação e currículos nacionais, as escolas e os professores têm liberdade ampla para organizar o ensino de forma que coadune com seus estilos individuais e para satisfazer as necessidades específicas dos alunos com os quais trabalham.
Esses professores apreciam essa autonomia como emblema de seu profissionalismo, o que sustenta a estima e o respeito na comunidade. Nos países onde os alunos recebem os melhores resultados nos testes padronizados internacionais, a remuneração dos professores se encontra no nível dos salários dos engenheiros, médicos e outros profissionais.
No entanto, nenhuma fórmula única cabe a todos. Por exemplo, em Cingapura, os alunos que ser tornarão professores vêm dos 30% mais proficientes do ensino médio. Eles recebem salários competitivos para assegurar que esses egressos mais competentes não migrem para outras profissões igualmente bem remuneradas.
Existe um elenco de oportunidades de careira contínuas e de largo horizonte para professores dentro das salas de aula, como pesquisadores nas diversas áreas de material curricular e na gerência e administração de docentes. A avaliação e a recompensa dos professores apoiam as metas de atrair para a profissão os melhores, prepará-los com o melhor treinamento e experiência, oferecendo apoio para aprimorar o ensino e incentivar seu melhor desempenho.
Uma parte substancial da recompensa financeira dos professores em Cingapura, entre 10% e 30%, é baseada no seu desempenho, e essa parcela aumenta com o número de anos na profissão.
O verdadeiro impacto de um evento como esse dependerá efetivamente do que se fizer a partir do que foi ouvido. Isso requer um esforço consultivo entre todos que estiveram presentes e um compromisso de diálogo respeitoso para enfrentar os desafios difíceis, porém necessários, que o Brasil deve enfrentar para alcançar o patamar dos países de alto desempenho na educação.
Philip Fletcher é membro do conselho consultivo da Avalia Educacional, empresa de avaliação de escolas e sistemas de ensino do grupo Santillana. No Brasil, foi consultor do Ministério da Educação e assessor da Fundação Carlos Chagas, em trabalhos com o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica).


18/04/2011 - 03h00

Em Cingapura, professor recebe salário enquanto estuda

Leia a seguir a íntegra da entrevista com o professor Lee Sing Kong, diretor do NIE (Instituto Nacional de Educação, em inglês), única instituição que forma docentes em Cingapura. Ele veio ao país para participar do segundo Seminário Internacional de Práticas Inovadoras para a Educação, promovido na semana passada, em São Paulo.
O instituto foi importante para a última reforma educacional do país, desenvolvida na década de 90, a "Thinking Schools Learning Nation" [Pensando escolas, nação aprendendo, em tradução livre]?
O NIE desempenha um papel fundamental em todas as iniciativas de reforma na área, já que os professores devem entender o que elas [as reformas] significam e saber que são instrumentos para que tenham impacto. Com o lançamento da "Thinking", em 1997, o papel dos professores mudou: de apenas transmitir conteúdo para contribuir para o desenvolvimento integral de todos os alunos, ajudando-os a descobrir seus talentos. Tomemos a ciência como exemplo. Se os professores fazem perguntas para criar uma curiosidade entre os estudantes, os alunos podem ser encorajados a pensar e a descobrir. Com a mudança do papel dos professores, a nossa forma de treinar também deve evoluir.
Como o instituto cuida da formação de professores em Cingapura?
O recrutamento de candidatos para o ensino público é realizado pelo Ministério da Educação (MOE), com ajuda do NIE. Logo, todos os estudantes-professores são na verdade funcionários do MOE. O ministério paga os custos da formação, e os professores alunos também recebem um salário enquanto estudam. Nosso trabalho principal é treinar professores iniciantes, mas também oferecemos pós-graduação para professores já em serviço. Em média, o NIE forma cerca de 2.000 professores iniciantes anualmente e aproximadamente 700 mestres.
Como os professores podem progredir na carreira?
Os professores em Cingapura são avaliados anualmente. Os critérios estão claramente expostos no "Enhanced Performance Management System" [Sistema de Gestão de Desempenho Aprimorado]. Diretores, vice-diretores e chefes de departamentos usam esses critérios para avaliar os professores, face a face. O processo de avaliação também ajuda os professores a orientar seus caminhos de desenvolvimento profissional. Professores com um bom desempenho são promovidos.
O NIE também desenvolve novas práticas de ensino que são adotadas nas escolas. Como isso funciona?
O NIE, sendo o instituto nacional de formação de professores, realiza extensa pesquisa com o objetivo de adotar os resultados nas práticas de sala de aula. Trabalhamos em estreita colaboração com os professores no processo de condução dessas pesquisas e, se forem implementadas, oferecemos treinamento profissional sobre como adotar tais práticas. A capacidade dos professores precisa ser construída antes que qualquer mudança nas práticas de sala de aula possa ser introduzida.
Um exemplo simples é o uso de dispositivos móveis para a aprendizagem contínua. Palmtops ou celulares têm sido adotados como ferramentas que permitem aos alunos aprender dentro e fora da sala. Os professores são preparados para facilitar essa aprendizagem. Então, isso é adotado em algumas escolas e depois ampliado para outras.
As escolas de Cingapura têm autonomia e têm de definir algumas metas de trabalho, cenário que lembra o mundo dos negócios. Isso funciona em um sistema educacional?
O Ministério da Educação tem uma estrutura chamada de "Modelo de Escola de Excelência", que orienta as escolas sobre como planejar suas metas e estratégias de desenvolvimento. Cada escola é diferente da outra e cada escola pode definir seus próprios objetivos e estratégias. Isso oferece a autonomia de traçar seu ritmo de desenvolvimento. Esse modelo também orienta as escolas em como avaliar seu progresso e suas realizações. A cada cinco anos aproximadamente, um grupo de avaliação externa vai visitar a escola.
O senhor acredita que a experiência de Cingapura possa ser usada aqui?
Uma diferença fundamental é que o sistema de ensino no Brasil é muito maior que o de Cingapura. Um país não pode transportar totalmente o sistema de outro país, já que o contexto, a cultura e o "ethos" nacional podem ser diferentes. Mas podemos sempre aprender uns com os outros. O sistema de Cingapura tem evoluído assim.

Editoria de Arte / Folhapress

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